quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A paixão segundo G.H. (Clarice Lispector)

- Sei, é ruim segurar minha mão. É ruim ficar sem ar nessa mina desabada para onde eu te trouxe sem piedade por ti, mas por piedade por mim. Mas juro que te tirarei ainda vivo daqui - nem que eu minta, nem que eu minta o que os meus olhos viram. Eu te salvarei deste terror onde, por enquanto, eu te preciso. Que piedade agora por ti, a quem me agarrei. Deste-me inocentemente a mão, e porque eu a segurava é que tive coragem de me afundar. Mas não procures entender-me, faze-me apenas companhia. Sei que tua mão me largaria, se soubesse.
Como te compensar? Pelo menos também usa-me, usa-me pelo menos como túnel escuro - e quando atravessares minha escuridão te encontrarás do outro lado contigo. Não te encontrarás comigo talvez, não sei se atravessarei, mas contigo. Pelo menos não estás sozinho, como ontem eu estava, e ontem eu só rezava para poder pelo menos sair viva de dentro. E não apenas viva - como estava apenas viva aquela barata primariamente monstruosa - mas organizadamente viva como uma pessoa.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

sair ou conversar ou planejar pequenas coisas e fazê-las ou não. sinto falta disso.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Bem no Fundo
(Paulo Leminski)

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

é o que dizem sobre o whisky, a madrugada, sua ausência naquele colchão com cobertas azuis e travesseiros multicor.