quinta-feira, 25 de junho de 2009

Começam a acontecer coisas interessantes quando se mora muito tempo num mesmo lugar. Nunca fui de fazer isso; de passar muito tempo num mesmo lugar. Agora estou nessa cidade há oito anos, quase nove - indo e voltando. Reparo naquilo que li em livros sobre as figuras que estão por todo canto das cidades: loucos, vendedoras ambulantes de docinhos suspeitos e pseudo cults como eu. Cartas marcadas. Bêbados que batem ponto na boêmia. Estátuas; seres imóveis que não definem nada, mas que dão uma falsa sensação de segurança e de história a tudo aquilo que é transitório: a vida em si. São como anti-coisas. Somos perfeitos mentirosos.
Está na hora de começar tudo de novo. Dessa vez do zero.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Mais uma dele, Paulo Leminski. Em comemoração ao frio. Em expectativa da viagem.

Iceberg

Uma poesia ártica,
claro, é isso que eu desejo.
Uma prática pálida,
três versos de gelo.
Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma
não seja mais possível.
Frase, não, Nenhuma.
Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,
um piscar do espírito,
a única coisa única.
Mas falo. E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos
(ou enxame de monólogos?)
Sim, inverno, estamos vivos.